O objetivo deste relato não é criticar ou diminuir o trabalho das pessoas envolvidas, mas sim gerar conhecimento aos que virão, aperfeiçoamento da prática do montanhismo e dos procedimentos de resgates em áreas remotas brasileiras.
Dia 30/nov/2024 estacionamos nosso carro no Chico Bento (Didier) eu (André), Léo e Rodolfo para escalarmos a via Elektra localizada na Pedra da Ana Chata, umas das mais repetidas da cidade de São Bento do Sapucaí-SP, como parte de um processo final de aprendizagem do curso de escalada em rocha da Aventura Alpina e preparo para a escalada do Alpamayo na Cordilheira Blanca peruana em julho de 2025. Considerada uma via de graduação fácil (4° BRA de média com crux de V), seria uma excelente opção para ambos os objetivos. Iniciamos a aproximação por volta das 07:00, 07:40 estávamos na base da via. Léo conduziu a primeira enfiada, de baixa graduação. André a segunda, terceira e quarta, Rodolfo vinha sempre como participante. Ao alcançarmos todos a P4, Léo se prontificou em guiar a última cordada. Vale ressaltar que o mesmo já estava em processo final de conclusão de guiada, e tinha como graduação conforto 6º BRA. Após completar a travessia entrou no lance vertical. Dali faltariam apenas 15m até a parada final. Conseguiu se proteger na terceira e última chapeleta da cordada, venceu o lance mais complexo com o cristal bi-dedo de direita, e pé alto de esquerda até alcançar o batente. Estando entre 1,5 a 2m acima da proteção, a poucos centímetros de alcançar o agarrão de mão direita levemente em diagonal que o deixaria confortável, sofreu uma queda. Considerando os fatores da distância da chapeleta, elasticidade da corda e cumprimento da costura, totalizou por volta de 5m de queda, ocasionando um pouso numa das saliências positivas da parede (não chegou a alcançar o platô). Com isso, teve lesão no calcanhar direito que o impediu de continuar.
Conseguindo se comunicar e relatando a situação impeditiva, iniciei o procedimento de auto-resgate para primeiramente ir ao seu encontro, confirmar o cenário e buscar por agravantes. Definido que seria necessária uma evacuação imediata, avisei nosso contato de suporte na cidade-base e o corpo de bombeiros que seria necessário apoio para evacuação. Avaliei que a melhor opção seria todos alcançarmos o cume, local seguro e com melhor acesso terrestre ou aéreo. Evacuar por baixo, pela mesma trilha que viemos foi descartado já que o rapel era inviável pela posição que estávamos, na parede: abaixo não havia pontos de reunião acessíveis mesmo estando com duas cordas de 60m. Imediatamente Rodolfo me assegurou até a P5 da via e iniciei o procedimento de içamento da vítima montando um sistema de redução de carga com polias. Ao trazer a vítima até mim, o posicionei de forma anatômica num local seguro e trouxe para o mesmo local o segundo participante que ainda aguardava na P4. Entre o içamento do Léo e o asseguramento para o Roldofo alcançar o cume, chegaram as primeiras equipes de resgate: os bombeiros civis que ficam na base da ferrata do Baú constituídos por Elis, Camila e Vieira, além dos escaladores Marco Nalon e Márcio.
Tendo todos em segurança no cume, colocamos a vítima na prancha rígida trazida pelos bombeiros civis, imobilizamos seu pé lesionado com talas flexíveis e bandagem, o envolvemos com a manta térmica e ficamos aguardando maior equipe de resgate por terra já que o resgate aéreo por helicóptero estava descartado dada a condição climática (grande nebulosidade e chuva leve). Aguardamos por volta de 3h até chegada dos bombeiros militares, às 19:00.
Trocamos Léo da prancha rígida para a sked e sob o comando do sargento dos bombeiros iniciamos a complicada descida até o ponto de acesso por veículo 4x4, finalizando às 23:40 aproximadamente. Sem dúvida uma operação que contou com a disposição e organização de todos para ter sucesso. Lucas, gestor do Mona Pedra do Baú também foi peça chave na comunicação e organização da equipe na base. A vítima foi removida primeiramente de volta ao estacionamento do Chico Bento e logo na sequência à Santa Casa de São Paulo.
Ele está estável e passa por tratamento da lesão.
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