top of page

Como é a expedição ao cume do Alpamayo no Peru, a montanha mais bonita do mundo?

Foto do escritor: @andreperlatti@andreperlatti

Foto tirada por André Perlatti do acampamento C1
Foto tirada por André Perlatti do acampamento C1

Em 1966 ganhou um concurso das montanhas mais bonitas do mundo realizado na Alemanha julgado por fotógrafos outdoor e montanhistas, e assim a fama permaneceu até os dias de hoje. Alcançar o acampamento avançado C1, a 5.300m de altitude, já é sem dúvida uma experiência inesquecível.


A aproximação ao Alpamayo começa na cidade de Huaraz ao norte do Peru, localizada na Cordilheira Blanca apelidada de "Himalaya andino" pela formação similar à maior cadeia montanhosa do planeta repleta de formações piramidais, fato este que a diferencia visual e tecnicamente dos andes bolivianos, argentinos e chilenos. Até 2024 a única forma de se chegar na cidade era com transporte terrestre desde Lima com duração aproximada de 8 horas, mas em julho passado o aeroporto da cidade começou a receber voos comerciais desde o aeroporto de Lima. Na cidade facilmente se encontra lojas excelentes de locações de equipamentos técnicos de glaciar. Para este roteiro são necessários botas duplas, crampons, piquetas semi-técnicas, parafusos de gelo, estacas, além de equipamentos verticais comuns como cadeirnha, capacete, cordas, mosquetões, freios e fitas.


Mochila pronta, logística planejada, equipe formada e escolhida a estratégia de aclimatação a qual pode ser realizada com hikings muito conhecidos na cidade até a faixa dos 5mil, seguimos com transporte privado até o vilarejo de Cashapampa a 3 horas de Huaraz, onde iniciamos a aproximação. O primeiro dia é relativamente fácil caso a estratégia de aclimatação tenha sido bem-sucedida. São 4 horas de subida até o acampamento Llamacoral, a 3.750m. Dia 2 já alcançamos o acampamento base a 4.300, localizado no fundo de um belíssimo vale aos pés do Alpamayo e Quitaraju. Passamos duas noites como parte da estratégia logística e de aclimatação.


Acampamento Llamacoral
Acampamento Llamacoral

No dia 4 o acampamento destino é o Morrena na faixa dos 5mil. Trata-se de um local árido e pedregoso na base do glaciar, o que o torna bastante desconfortável pelas constantes avalanches no entorno, mas logisticamente vale muito a pena se passar ao menos uma noite antes da investida ao avançado C1. O trecho pelo glaciar entre o Morrena e o col do Alpamayo com o Quitaraju em 2024 continha o lance mais desafiador de toda a expedição: uma parede de gelo com 10m sendo um parte com inclinação superior a 90º (negativo). Geralmente esta parte localizada a apenas 70m do acampamento possui uma rampa de gelo com angulação confortável de 50º, porém a quantidade de neve desta temporada não foi suficiente para manter este relevo como nos anos anteriores. Vencido o complexo lance até o belíssimo C1, um dos mais espetaculares do planeta, montamos nosso acampamento cavados na neve com o auxílio de nossa equipe de suporte e recuperamos as energias para a investida de cume.


C1
C1

Optamos pela estratégia de passarmos 3 noites no C1: primeira na chegada do Morrena, segunda de descanso e a terceira pós cume para realizarmos a descida de volta ao BC mais recuperados das longas horas no dia anterior. Não é uma estratégia comumente aplicada por outras equipes nesta montanha, mas é considerada pelo nosso guia líder André Perlatti a mais segura. O local também serve como início da investida de cume ao Quitaraju (6.036m).


No dia 7 da expedição acordamos meia-noite para iniciarmos o longo dia de cume. Nos equipamos, tomamos café e seguimos até a base da via Peruana-Canadense, um caminho novo aberto por uma equipe formada por estas duas nacionalidades que em 2024 era a rota mais segura, com menores chances de avalanches dos imponentes cogumelos do cume. Basicamente descemos ao pequeno vale que há entre o C1 e o Alpamayo, desviamos de algumas gretas e subimos numa linha direta até a rimaya, faixa emblemática de ruptura do glaciar que cobre a montanha. Este é o segundo crux (lance mais difícil), com extensão de 5-7m e inclinação 90º. Deste ponto em diante acessamos a canaleta da via e seguimos 300m de escalada com inclinação constante de 70-80º. A qualidade do gelo em 2024 estava ótima exceto na parte das rochas na metade da parede, onde o gelo ficava bem mais duro e fino. Um lance de 60m que exige um pouco mais de tempo para ser transposto. Dali em diante volta a ter boa qualidade para as piquetas mas a altitude começa a cobrar seu preço, afinal estamos falando de uma montanha com praticamente 6mil metros.


Canaleta da via Peruana-canadense
Canaleta da via Peruana-canadense

Após 11-13 horas de escalada alcançamos o cume. A situação do solo neste ponto é precária, sob um grande cogumelo com possibilidade de colapsar a qualquer momento. Tiramos as fotos e rapidamente iniciamos a longa volta, 10 rapéis com extensões que variavam de 40 a 60m cada. Após quase 15 horas de atividade alcançamos de volta o C1 para pernoite. Dia 8 acordamos cedo para desmontar tudo e finalmente sairmos do glaciar passando batido pelo Morrena até o BC onde dormimos uma noite. Dia 9 voltamos ao início da trilha e retornamos a Huaraz.


Não é uma aventura para iniciantes. Mesmo os que tem experiência em alta montanha na Bolívia ou Argentina, é necessário ter experiência em parede para tentarem algo deste nível. São 400m de escalada em gelo, o que a torna complexa na mesma proporção que é magnífica. Próxima expedição em julho.

28 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Resgate na via Elektra, Pedra da Ana Chata.

O objetivo deste relato não é criticar ou diminuir o trabalho das pessoas envolvidas, mas sim gerar conhecimento aos que virão,...

Comments


Fale com um de nossos guias
bottom of page