
Em 1966 ganhou um concurso das montanhas mais bonitas do mundo realizado na Alemanha julgado por fotógrafos outdoor e montanhistas, e assim a fama permaneceu até os dias de hoje. Alcançar o acampamento avançado C1, a 5.300m de altitude, já é sem dúvida uma experiência inesquecível.
A aproximação ao Alpamayo começa na cidade de Huaraz ao norte do Peru, localizada na Cordilheira Blanca apelidada de "Himalaya andino" pela formação similar à maior cadeia montanhosa do planeta repleta de formações piramidais, fato este que a diferencia visual e tecnicamente dos andes bolivianos, argentinos e chilenos. Até 2024 a única forma de se chegar na cidade era com transporte terrestre desde Lima com duração aproximada de 8 horas, mas em julho passado o aeroporto da cidade começou a receber voos comerciais desde o aeroporto de Lima. Na cidade facilmente se encontra lojas excelentes de locações de equipamentos técnicos de glaciar. Para este roteiro são necessários botas duplas, crampons, piquetas semi-técnicas, parafusos de gelo, estacas, além de equipamentos verticais comuns como cadeirnha, capacete, cordas, mosquetões, freios e fitas.
Mochila pronta, logística planejada, equipe formada e escolhida a estratégia de aclimatação a qual pode ser realizada com hikings muito conhecidos na cidade até a faixa dos 5mil, seguimos com transporte privado até o vilarejo de Cashapampa a 3 horas de Huaraz, onde iniciamos a aproximação. O primeiro dia é relativamente fácil caso a estratégia de aclimatação tenha sido bem-sucedida. São 4 horas de subida até o acampamento Llamacoral, a 3.750m. Dia 2 já alcançamos o acampamento base a 4.300, localizado no fundo de um belíssimo vale aos pés do Alpamayo e Quitaraju. Passamos duas noites como parte da estratégia logística e de aclimatação.

No dia 4 o acampamento destino é o Morrena na faixa dos 5mil. Trata-se de um local árido e pedregoso na base do glaciar, o que o torna bastante desconfortável pelas constantes avalanches no entorno, mas logisticamente vale muito a pena se passar ao menos uma noite antes da investida ao avançado C1. O trecho pelo glaciar entre o Morrena e o col do Alpamayo com o Quitaraju em 2024 continha o lance mais desafiador de toda a expedição: uma parede de gelo com 10m sendo um parte com inclinação superior a 90º (negativo). Geralmente esta parte localizada a apenas 70m do acampamento possui uma rampa de gelo com angulação confortável de 50º, porém a quantidade de neve desta temporada não foi suficiente para manter este relevo como nos anos anteriores. Vencido o complexo lance até o belíssimo C1, um dos mais espetaculares do planeta, montamos nosso acampamento cavados na neve com o auxílio de nossa equipe de suporte e recuperamos as energias para a investida de cume.

Optamos pela estratégia de passarmos 3 noites no C1: primeira na chegada do Morrena, segunda de descanso e a terceira pós cume para realizarmos a descida de volta ao BC mais recuperados das longas horas no dia anterior. Não é uma estratégia comumente aplicada por outras equipes nesta montanha, mas é considerada pelo nosso guia líder André Perlatti a mais segura. O local também serve como início da investida de cume ao Quitaraju (6.036m).
No dia 7 da expedição acordamos meia-noite para iniciarmos o longo dia de cume. Nos equipamos, tomamos café e seguimos até a base da via Peruana-Canadense, um caminho novo aberto por uma equipe formada por estas duas nacionalidades que em 2024 era a rota mais segura, com menores chances de avalanches dos imponentes cogumelos do cume. Basicamente descemos ao pequeno vale que há entre o C1 e o Alpamayo, desviamos de algumas gretas e subimos numa linha direta até a rimaya, faixa emblemática de ruptura do glaciar que cobre a montanha. Este é o segundo crux (lance mais difícil), com extensão de 5-7m e inclinação 90º. Deste ponto em diante acessamos a canaleta da via e seguimos 300m de escalada com inclinação constante de 70-80º. A qualidade do gelo em 2024 estava ótima exceto na parte das rochas na metade da parede, onde o gelo ficava bem mais duro e fino. Um lance de 60m que exige um pouco mais de tempo para ser transposto. Dali em diante volta a ter boa qualidade para as piquetas mas a altitude começa a cobrar seu preço, afinal estamos falando de uma montanha com praticamente 6mil metros.

Após 11-13 horas de escalada alcançamos o cume. A situação do solo neste ponto é precária, sob um grande cogumelo com possibilidade de colapsar a qualquer momento. Tiramos as fotos e rapidamente iniciamos a longa volta, 10 rapéis com extensões que variavam de 40 a 60m cada. Após quase 15 horas de atividade alcançamos de volta o C1 para pernoite. Dia 8 acordamos cedo para desmontar tudo e finalmente sairmos do glaciar passando batido pelo Morrena até o BC onde dormimos uma noite. Dia 9 voltamos ao início da trilha e retornamos a Huaraz.
Não é uma aventura para iniciantes. Mesmo os que tem experiência em alta montanha na Bolívia ou Argentina, é necessário ter experiência em parede para tentarem algo deste nível. São 400m de escalada em gelo, o que a torna complexa na mesma proporção que é magnífica. Próxima expedição em julho.
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